O humor satírico Machadiano em uma breve análise dos contos Pai contra mãe (1906) e Mariana (1871)

Abstract

Este artigo é resultado de um estudo sob o aspecto satírico do discurso machadiano, presente em, praticamente, todos os seus contos e romances. Machado entrega, de forma magistral, nos dois contos selecionados para estudo, diferentes pontos de reflexão e crítica social: a escravidão, a miséria, a aristocracia, a passagem do mundo predominantemente rural para o mundo urbano e, principalmente, como pano de fundo desse cenário, a hipocrisia social, que é atacada constantemente através da linguagem irônica e satírica. O discurso não permite que absurdos passem despercebidos, que críticas fiquem incólumes. Tampouco fica incólume o leitor. Machado demonstra a capacidade aguda de inflamar os ânimos, perturbar convicções e atingir no centro os nossos conceitos e preconceitos, colocando o leitor em xeque, principalmente em Pai contra mãe (1906), sobre o que pensar, o que defender, qual lado é o certo e qual o errado. Em Mariana(1871), Machado incomoda novamente. A sátira, feita de maneira primorosa e com uma sutil ironia, consegue dar a sensação de que o autor se passa por tolo, como se não quisesse dizer o que diz; mas o leitor sabe perfeitamente o que ele quer dizer. Mariana era quase senhora; não podia sê-lo, era escrava. Havia um pai e uma mãe. O pai “ganhou” a batalha; a mãe era escrava. Essas dualidades impactantes, duas mortes angustiantes, e um leitor que se surpreende a cada leitura e a cada novo ponto de vista.