Associação entre saúde bucal e os indicadores de privação material e desigualdade socioeconômica : uma análise global

Abstract

Introdução: De acordo com a Federação Dentária Internacional (FDI), a saúde oral é um direito básico que é usufruído por poucos, havendo grandes desigualdades, apesar das doenças bucais serem amplamente evitáveis. Para conquistar uma equidade na saúde bucal é importante identificar a persistência da condição de pobreza. Sendo imprescindível buscar ativamente indicadores socioeconômicos e de privação material que influenciam diretamente na saúde bucal, a fim de justificar o gradiente de doenças na população. Objetivo: Investigar possíveis associações entre saúde bucal e indicadores socioeconômicos e de privação material dentre os países membros da Organização Mundial de Saúde (OMS). Método: Trata-se de estudo transversal descritivo de análise secundária em que as variáveis de saúde bucal analisadas foram: a) o índice de Dentes Cariados, Perdidos ou Obturados (CPO-D) aos 12 anos e em idade agregada; b) o Índice Periodontal Comunitário (IPC) mínimo e máximo; e c) as incidências de câncer de boca, de glândula, de língua e de lábio. Os indicadores socioeconômicos utilizados foram o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o Coeficiente de Gini (Gini). Ademais, o indicador de privação material utilizado foi o de Privação Material Severa da União Europeia (PMSUE). Os dados foram coletados junto aos sistemas de informações de organismos internacionais, a saber: Organização Mundial de Saúde (OMS), Banco Mundial, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Estatísticas da União Europeia sobre renda e condições de vida (EU-SILC). Resultado: Os achados da análise de regressão linear simples demostraram que existe uma relação estatística significativa entre PMSUE e CPOD aos 12 anos (p= 0.022) e CPOD agregado (p= 0.022). Quando o modelo estatístico múltiplo foi analisado sob a luz da matriz de correlação, foram observadas correlações moderadas entre CPOD agregado e IDH (R de Pearson= -0.502, p= 0.011); CPOD agregado e Gini (R de Pearson= 0.394, p= 0.050); e CPOD agregado e PMSUE (R de Pearson= 0.457, p= 0.022). Em relação a porcentagem de IPC equivalente a 0, quando analisada em regressão linear simples com PMSUE (p=0.001), foi a variável com maior relação estatistica. Além disso, a incidência de câncer de lábio em mulheres obteve relação estatística em uma regressão linear simples com o IDH (p= 0.047). Dentre os indicadores socioeconômicos, o IDH apresentou maior força do que o Gini na relação com todas as variáveis bucais. Conclusão: Este estudo mostra a importância de se analisar a saúde bucal com todos os seus fatores modificadores conjuntamente, conforme a nova definição pela FDI, que aborda a saúde bucal em sua complexidade multifacetada evidenciando a necessidade de analisar a pobreza absoluta a fim de achar pessoas consideradas em risco para doenças bucais, com a privação material tendo uma importante função na explicação do processo saúde-doença, principalmente em relação à doença cárie.