“Nego eu”: um roteiro de curta-metragem a partir de meditações sobre o ser-negro em meio à colonialidade

Abstract

Este trabalho consiste no desenvolvimento de um roteiro ficcional de curta-metragem do gênero experimental acerca da experiência existencial e subjetiva do ser enquanto negro inserido na sociedade brasileira contemporânea, estruturada ao longo dos últimos séculos sob a influência dos ideais do projeto colonial eurocêntrico. Para esse propósito, a pesquisa se encarregou de investigar as condições definidas historicamente à categoria de humanidade, a sua relação com o processo de racialização nacional imposto à população negra e alguns efeitos éticos, sociais, psíquicos e semânticos de tal embate. Após o reconhecimento de determinados mecanismos presentes na formação da subjetividade dos indivíduos relegados à outridade, realizou-se ainda o exame do fenômeno cultural representativo como espaço de construção dos sentidos e consolidação de mitos, e possível campo de disputa de significados, propondo uma análise sobre a cristalização fantasiosa da negritude como paradigma estático em sua inferioridade, leitura essa articulada particularmente pelo recorte das masculinidades e dos seus valores. Em associação às descobertas feitas, detalha-se o decurso da criação narrativa em concomitância com a apuração científica. Assim, é apresentada uma interpretação artística acerca das circunstâncias ontológicas e semânticas reservadas ao indivíduo negro na contemporaneidade neoliberal, baseada em reflexões em torno da lógica ambivalente do estereótipo e das contradições intrínsecas à racionalidade humanista constituída a partir do Iluminismo. O roteiro resultante conta a história de Pedro, uma personagem negra, e a sua busca absurda por um propósito de vida em meio a uma compreensão coletiva implicitamente hostil e excludente à sua existência.